Que limite intransponível separa o comportamento humano dos outros animais? É muito comum ouvirmos uma resposta rápida, quase intuitiva: é a RAZÃO! A razão nos separa, pois outros animais são governados por instintos e atributos inatos que determinam como agem. A possibilidade de mudar a maneira de agir parece estar fora do alcance deles.
Será que a fábula do escorpião e do sapo traduz a verdadeira NATUREZA ANIMAL?
A fábula conta a história de um escorpião que teve seu caminho interrompido por um largo rio, sendo obrigado a parar para considerar a situação. De repente, ele vê um sapo sentado na margem do rio. ”– Olá, Sr. Sapo”, chamou o escorpião. “Você faria a gentileza de me levar, nas suas costas, para o outro lado do rio?”. O sapo desconfiado perguntou ”– Como saberei que você não vai me matar, afinal você é um escorpião!”. O escorpião respondeu ”– Porque se eu matá-lo me afogaria, pois não consigo nadar.”. Então, o sapo concordou com o escorpião, que rastejou para as costas do sapo, espetando a pele macia com suas patinhas pontiagudas. E assim, ambos escorregaram para o rio. Passada a primeira metade do caminho, o sapo sentiu uma forte picada e pelo canto dos olhos, viu o escorpião retirar o ferrão. Um torpor intenso tomou-lhe o corpo. ”– Seu tolo! Porque fez isso? Agora nós dois vamos morrer!” gritou o sapo. ”– Desculpe-me, não pude evitar, é da minha natureza.”, respondeu o escorpião. E ambos afundaram nas águas frias e profundas. A moral da história é que cada um age conforme sua natureza, mesmo que isso pareça incompreensível, pois a natureza determina o comportamento.
Será esse o elemento que nos separa das outras criaturas?
De um ponto de vista, se o animal é incapaz de mudar sua maneira de agir, eles são vistos como coisas, como “máquinas” biológicas. E isso se dá, única e exclusivamente, por serem escravos da NATUREZA ANIMAL. Dessa forma, somos as únicas criaturas dotadas de LIVRE VONTADE, pois possuímos uma MENTE RACIONAL, ou seja, somos seres RACIONAIS por sermos dotados de RAZÃO. A razão por nos sentirmos dessa forma está no fato de sermos capazes de recordar o passado com grande riqueza de detalhes, podemos prever um possível futuro, imaginar alternativas, medir experiências, julgar experiências, além de deduzir consequências e premissas.
É inegável que temos impulsos e instintos, portanto possuímos uma NATUREZA ANIMAL. No entanto, nossa MENTE RACIONAL está acima de tudo isso, podendo controlar inclusive nossos reflexos. Somos capazes de segurar algo quente e não largar, mesmo queimando nossa pele. Somos capazes de, até mesmo, desafiar o instinto de sobrevivência por um ato racional de LIVRE VONTADE para sacrificar a própria vida para salvar uma pessoa amada ou defender algum ideal.
Apesar das diferenças, a divisão entre seres RACIONAIS e IRRACIONAIS não deve ser mantida, pois mesmo criaturas com sistemas nervosos mais simples, podem apresentar uma RACIONALIDADE, ainda que mais precária, pois seu COMPORTAMENTO INATO é mais dominante do que seu APRENDIZADO pela experiência, que possibilitaria mudanças no comportamento. A diferença entre seres humanos e outras criaturas deve ser fixada por “mais ou menos” no lugar de um simples “sim ou não”.
Mesmo os animais unicelulares, como os protozoários (latim proto “primeiro” e zoon “animal”), apresentam comportamentos diferentes, pois nem sempre dão a mesma resposta diante dos mesmos estímulos. A realidade de uma máquina é completamente diferente, pois esperamos obter, invariavelmente, a mesma resposta diante dos mesmos estímulos/circunstâncias.
O protozoário pode agir de diversas formas diante do mesmo estímulo. Por exemplo, quando ele encontra algo irritante na água, imagine que ele possa dar quatro tipos de resposta, sendo cada uma, em ordem crescente, mais extrema que a anterior. Se o irritante da água repetir-se em curtos intervalos de tempo, o protozoário poderá reagir com a resposta 3 ou 4 de imediato, ignorando as possibilidades anteriores. É como se o protozoário tivesse desistido de “meias medidas” e para não perder tempo com as respostas 1 e 2, ele “aprendeu” a dar uma resposta melhor àquela circunstância.
A mesma facilidade em modificar o comportamento pelo CONDICIONAMENTO acontece em animais mais complexos, como o rato, pois ele vivia na natureza sem a presença do homem, mas aprendeu a viver nas cidades, tornando-se uma criatura urbana, exatamente como os humanos. De certo modo, eles foram mais eficientes do que nós, pois apesar das adversidades criadas pelos humanos, o rato mudou sua NATUREZA ANIMAL, passando a viver nas cidades.
Existem fatos que não podem ser mudados. Por exemplo, um leão não poderá ser CONDICIONADO a comer capim, pois não possui dentes para a mastigação ou um aparelho digestivo apropriado. Assim, é correto dizer que é INATO ao leão comer zebras e não capim. Trata-se de uma limitação física que também nos limita. Não podemos, pelo poder do pensamento, aumentar a altura de nossos corpos, ficarmos invisíveis ou sairmos voando. Apesar do cerébro desenvolvido com sua maravilhosa mente racional, somos tão escravos das limitações físicas como qualquer ameba.
No caso de organismos mais simples, o APRENDIZADO, no sentido de desenvolvimento de conduta não-inata, se dá pelo CONDICIONAMENTO. Por exemplo, não é INATO para uma abelha sentir-se atraída pelas cores cinza ou azul, mas pelo CONDICIONAMENTO podemos fazer com que a abelha “aprenda” a associar essas cores com alimento. Note que de um ponto de vista, a “máquina” mudou sua associação, mas o método continua sendo o de máquina.
Animais com sistema nervoso mais complexo, como os mamíferos, apresentam comportamentos mais complexos. Por exemplo, imagine um gato preso numa sala, onde a única saída é a porta e o trinco deverá ser acionado. O gato apresentará comportamento aleatório debatendo-se ao acaso, pulando, arranhando, miando, etc. Por fim, ele faz algo que aciona o trinco e, acidentalmente, o liberta. Da próxima vez que ficar preso, ele repetirá os movimentos ao acaso, até que, mais uma vez, consiga baixar o trinco e se libertar. Depois de várias REPETIÇÕES, o gato conseguirá fugir imediatamente, pois ele estará condicionado a baixar o trinco, pois finalmente associou o ato com a fuga.
Claro que a memória é fundamental para que o gato consiga descobrir a saída mais depressa na segunda do que na primeira vez. Quanto mais complexo for o sistema nervoso do animal, maior será sua memória. Os macacos podem se lembrar por mais tempo, se compararmos com os gatos.
Para interpretar o comportamento animal, o biólogo Lloyd Morgan (foto abaixo) afirmava que o ideal seria usar o menos possível a “humanidade”. O que se mostra fácil no caso do gato, pois trata-se de experiência de TENTATIVA E ERRO, com vislumbres de MEMÓRIA e CONDICIONAMENTO suficientes para explicar o comportamento do animal.
Os seres humanos são os que apresentam a melhor MEMÓRIA do reino da vida e, mesmo assim, quando perdemos algo, muitas vezes abandonamos a RACIONALIDADE e passamos a ter um comportamento igual ao do gato, procurando o objeto perdido ao acaso, aqui e ali. Caso o objeto seja encontrado, não tera sido pelo uso do RACIOCÍNIO, mas sim pela experiência de TENTATIVA E ERRO.
A diferença da situação do gato é que temos uma grande vantagem, pois podemos examinar lugares mais prováveis de onde o objeto possa estar, desafiando muitas tentativas de busca aleatórias pela sala. Ou seja, com base na MEMÓRIA, simplificamos o processo de RACIOCÍNIO. Sempre será possível voltarmos ao método da TENTATIVA E ERRO, mas de modo sublimado, pois transferimos o método da ação para o campo mental. Uma pessoa não vai procurar em cada canto da sala, pois buscará por uma provável localização, eliminando o que a experiência lhe mostra como improvável, simplificando sua busca.
Dessa forma, a mudança no comportamento animal apresenta três estágios ascendentes:
1º) Condicionamento pelas CIRCUNSTÂNCIAS;
2º) Condicionamento depois do método de TENTATIVA E ERRO;
3º) Condicionamento depois da SUBLIMAÇÃO do método de TENTATIVA E ERRO.
Será que podemos considerar esse último estágio, a SUBLIMAÇÃO do método de TENTATIVA E ERRO, como a RAZÃO, que nos diferencia dos outros animais? Wolfgang Kohler (foto abaixo) estudou os chimpazés e provou que eles são capazes de resolver problemas por lampejos de intuição, ou seja, eles apresentaram SUBLIMAÇÃO, sendo impossível negar-lhes o RACIOCÍNIO. Deram ao chimpanzé uma banana pendurada bem alto e duas varas curtas demais para alcançarem a fruta. Depois de algum tempo de TENTATIVAS E ERROS, o macaco se convenceu de que as varas eram muito curtas. Parou por alguns instantes e enganchou uma vara na outra, encompridando-as o suficiente para pegar a banana.
E no caso do elefante? E o golfinho? Não sabemos até que ponto a TENTATIVA E ERRO se SUBLIMOU para desafiar a possibilidade de RACIOCÍNIO, pois não foram realizados experimentos suficientes para essa afirmação geral. No entanto, é possível afirmar que a RAZÃO não é suficiente para explicar a separação do ser humano com outras criaturas. Mas será que o ato de achar uma saída, ou um objeto perdido, pode ser usado como base científica para comparar seres humanos e outros animais?
Para John Broadus Watson (foto abaixo), fundador do behaviorismo, a psicologia deveria estudar apenas os comportamentos objetivos, concretos e observáveis e não se preocupar com questões introspectivas, filosóficas e motivacionais. Como estudioso de psicologia animal, ele priorizava métodos experimentais não introspectivos para estudar o comportamento de ratos e macacos, e acabou quebrando a barreira que separa a psicologia humana da animal. Portanto, a APRENDIZAGEM é o resultado de REFLEXOS CONDICIONADOS.
A diferença entre um reflexo comum e um condicionado é que neste o cérebro entra em ação. Portanto, é razoável considerar que o aumento da complexidade cerebral aumenta a complexidade dos REFLEXOS CONDICIONADOS. Nos mamíferos, alguns reflexos condionados podem ser considerados tão complexos que há dúvida se podem ser realmente considerados reflexos.
Os psicólogos chamam esse fenômeno de RESPOSTA CONDICIONADA. Um HÁBITO é um conjunto de respostas condicionadas. Os neurônios vão se engatando cada vez mais, formando “circuitos” que representam as combinações de condicionamentos. As unidades de memória vão sendo armazenadas, cada vez mais, até que a tentativa e erro possa ser processada nesses armazenamentos de lembranças em vez do mundo físico.
Para os behavioristas, assim que as unidades de memória são armazenadas, há muito espaço para o CONDICIONAMENTO, não sendo necessário mais nada para explicar o comportamento humano. Por exemplo, uma criança, que esta aprendendo a ler, vê a letra “b” e a associa com um som. Depois olha para as combinações das letras “boca” e começa a associa-la com uma determinada palavra que já tinha associado a uma determinada coisa. A LINGUAGEM é uma complexa série de RESPOSTAS CONDICIONADAS. Ela só é possível por possuirmos uma excelente MEMÓRIA combinada com processos de SUBLIMAÇÃO de TENTATIVA E ERRO. Os mesmo elementos podem ser encontrados em outros animais, a diferença está na intensidade.
Mesmo atributos considerados como superiores da mente, como dedução lógica ou criatividade, podem ser reduzidos ao método da TENTATIVA E ERRO com CONDICIONAMENTO. O cérebro possuí grandes áreas que se dedicam às ASSOCIAÇÕES e não recebem diretamente as SENSAÇÕES ou dirigem as respostas.
A existência das áreas de associações trouxe a falsa ideia de que usamos apenas 10% de nossa capacidade cerebral. Seria o mesmo que dizer que, a construção de um prédio utilizou-se apenas 10% dos empregados, pois estaríam ignorados o trabalho dos diretores, secretários e empregados do escritório. A maior parte do cérebro se ocupa com as ASSOCIAÇÕES, de modo que está correto afirmar que usamos o cérebro todo.
Na região do lobo temporal do cérebro está a área de associações auditiva, onde certos sons são associados com as MEMÓRIAS de experiências passadas. Por exemplo, um ruído surdo e prolongado pode trazer à mente a ideia de um trovão distante ou então, não há associação nenhuma. Normalmente, quando não há associação alguma, podemos sentir muito medo.
Do mesmo modo, existe uma área de associação visual no lobo occipital do cérebro e uma área de associação somestética atrás da área somestética. Todas essas áreas de associação são reunidas e associadas na área gnóstica que ativa a área ideomotora, traduzindo uma resposta adequada. Essa informação chega na área premotora no lobo frontal do cérebro, coordenando a atividade muscular necessária para produzir a resposta desejada, realizada pela área motora.
Em 90% dos casos, a área gnóstica e ideomotora estão localizadas no hemisfério esquerdo do cérebro humano. A existência de um hemisfério dominante evita que surjam duas séries separadas de interpretações, o que aconteceria se cada hemisfério tivesse sua própria autonomia.
Mesmo reunindo todas as áreas de associação, as áreas sensoriais e as áreas motoras, temos áreas do cérebro sem uma função específica conhecida como área silenciosa, localizada no lobo préfrontal do cérebro. Tendemos a considerar essa área como a mais significativa, pois a evolução do sistema nervoso humano tem se baseado em empilhar complicações na extremidade dianteira do cérebro.
Na escala dos peixes aos mamíferos, a parte fronteiriça do cérebro é a que sofre maior desenvolvimento, tornando o cérebro em algo cada vez mais dominante. Na escala do macaco ao homem, nota-se um desenvolvimento sucessivo no lobo frontal do cérebro. Mesmo depois do cérebro ter atingido seu tamanho humano completo.
Nos primeiros homínideos, os lobos frontais continuaram se desenvolvendo. O homem de Neanderthal tinha um cérebro do tamanho do nosso, porém nós temos o lobo frontal mais desenvolvido em detrimento do lobo occipital. O peso é o mesmo, a distribuição que é diferente. Assim, existe a presunção de que os lobos pre-frontais são usados para o armazenamento das associações.
Hoje em dia, é dificil negar que os nervos e os hormônios são os únicos mediadores físico-químicos do comportamento, concluindo que todo COMPORTAMENTO humano, por mais complexo que seja, pode ser reduzido a um plano mecânico de células nervosas e hormônios. A menos que se defenda a existência de algo abstrato como “alma” ou “espírito”, estamos reduzidos a estudar o comportamento humano, mesmo sendo o mais elevado e complexo, entre as células do sistema nervoso e as substâncias químicas no sangue.
Quando o processo de SUBLIMAÇÃO de TENTATIVA E ERRO torna-se tão complexo, como acontece na nossa mente, é útil a tentativa de interpretar a atividade mental diante do COMPORTAMENTO. Entratanto há uma grande discussão sobre a interpretação mais útil. Quando a RAZÃO atinge um determinado ponto de intensidade, ela se torna suficientemente complexa para permitir abstrações e criar símbolos que representam conceitos. O som da palavra “porta” não representa uma porta específica, mas um conceito que não existe fisicamente, ou seja, representa todas as coisas parecidas com porta.
Atingimos o maior nível de complexidade e compreensão na comunicação, pois concebemos abstrações e as concebemos por meio de sons. São emitidos diferentes tipos de sons para que os conceitos se transformem em palavras faladas. A palavra falada marca a diferença que separa os seres humanos dos outros animais, pois sua existência significa uma reunião de experiências e conclusões que ultrapassam a função individual. Há um compartilhamento de experiências.
Com isso, as tribos ficaram mais unidas e fortes, pois tornaram-se menos ignorantes e mais aptas à APRENDER. Cada nova geração não precisa começar tudo de novo, como acontece com os outros seres vivos. Os pais transmitem suas experiências e conhecimentos aos filhos, não apenas por demonstração, mas por palavras que representam conceitos, pensamentos e deduções. A transmissão depende das repetições e associações feitas pelo filho.
Repetir perfeitamente um comando é bem difícil, pois exige muitas repetições para desenvolver precisão. Quanto mais praticarmos, mais familiarizados ficamos com uma situação, aumentando o número de acertos. As tarefas que realizamos podem apresentar ambiguidades e variações que causam dificuldades na execução da tarefa. Dessa forma, trabalhamos a todo momento com RUÍDOS SENSORIAIS, de movimento e de tarefa. Nossa sociedade premia aqueles que conseguem reduzir as consequências dos ruídos. Por exemplo, se você for capaz de acertar constantemente uma pequena bola branca num pequenino buraco, usando uma única tacada, nossa sociedade está disposta a premiá-lo com muito dinheiro.
O cérebro faz um grande esforço para diminuir todo esse ruído, obtendo informações dos órgãos sensoriais, comparando-os com informações da memória de um conhecimento antecedente. Esse processo faz com que a pessoa passe a acreditar que determinado movimento é mais apropriado para aquela situação. O cérebro comanda os músculos e o movimento acontece gerando uma ação. O resultado dessa ação abre possibilidade para reforçarmos ou reduzirmos nossa crença sobre aquela situação, podendo, até mesmo, resultar na mudança de crenças e valores.
Imagine-se num jogo de tênis e você deseja saber onde a bola irá ser lançada no seu lado. Existem duas fontes de informação. Uma é a percepção sensorial (visual, auditiva). Ela te dará a informação de que a bola acertará um determinado ponto na quadra. Mas você sabe que seus sentidos não são perfeitos e que existe uma variabilidade, portanto os sentidos indicam uma área possível em que a bola acertará seu lado da quadra.
Essa informação é sobre aquela bola específica, mas existe uma outra fonte de informação, não disponível naquela jogada, mas disponível apenas para aqueles que repetiram a experiência várias vezes, durante os treinos e jogos. Assim, jogadores mais experientes tem como acessar a memória de outros jogos, como fonte de informação, para rebater a bola, lançando-a numa área do lado do adversário que sabem ser mais difícil de rebater.
Ambas as fontes de informação são importantes. O cruzamento dessas informações trará o melhor resultado, ou seja, trará a melhor percepção de onde a bola irá acertar a quadra. Isso significa que para ter um melhor resultado, precisamos prever a probabilidade das variações do feedback sensorial pelas experiências vividas naquela situação.
Sem perceber, nós fazemos isso a todo momento. O cérebro faz previsões diante do feedback sensorial, alterando nossa percepção diante daquilo que fazemos, aumentando a previsibilidade do resultado. Diante da percepção sensorial, o cérebro envia um comando e o resultado obtido tem o poder de transformar nosso comportamento, pois na mente temos como simular nossos sentidos e comportamento. Por exemplo, quando enviamos um comando para pegar algo frágil, a simulação do movimento da pegada é reproduzida em nossa mente, antecipando as consequências daquela ação. Isso faz com que possamos aplicar a força necessária para pegar o objeto frágil, sem danificá-lo.
Por que outras pessoas são mais eficazes, do que nós mesmos, para nos fazer cócegas?
Isso acontece, pois nossa sensação é bem diferente da sensação sentida por outra pessoa. Quando tentamos fazer cócegas em nós mesmos, a sensação ofensiva é subtraída pela simulação gerada anteriormente em nossa mente. Esse tipo de simulação acontece a todo momento. Assim, você nunca será capaz de fazer cócegas em você mesmo, melhor do que qualquer outra pessoa. Isso significa que nosso cérebro faz previsões precisas, podendo escolher subtrair ou adicionar elementos as nossas sensações.
O CONHECIMENTO se atualiza sempre por meio de novas SENSAÇÕES que encontram experiências e sensações transformadas em memória. Tudo o que fazemos é movido pelo equilíbrio dos desejos de evitar sofrimento ou buscar prazer. Todos nós tomamos decisões por razões emocionais e não racionais. A RAZÃO é o convencimento interno para nos sentirmos emocionalmente bem. As emoções estão ligadas às consequências, com associações boas e ruins. Tentamos nos afastar de certos estados emocionais e buscamos alcançar outros. É essa inquietude que gera o hábito de tatear, ver, escutar, sentir, comparar, refletir, temer, desejar, esperar, querer, julgar, etc.
A mente é gerada pelas SENSAÇÕES que alimentam o pensamento e produzem o efeito de chamar a atenção. Nós temos a incrível capacidade de selecionar entre todos os sentidos, sempre em funcionamento, aquele que merece maior atenção, certamente por produzir e transmitir informações mais interessantes para os SENTIMENTOS e PENSAMENTOS daquela pessoa.
Os sentimentos, aguçados pelas sensações, fazem o pensamento funcionar tentando compreender aquilo que é a sensação ou atualizando aquela sensação com o conhecimento anterior registrado na memória. A memória é o conjunto das sensações que foram experimentadas, registradas e transformadas em experiências, produzindo uma sensação de prazer ou sofrimento; isso faz com que toda a atenção do pensamento se dirija para o sentimento.
A atenção pode virar memória e conhecimento adquirido, se o pensamento for estimulado por sentimentos gerados pelas sensações experimentadas. Por essa memória e sentimentos, atualizados pelas sensações, os seres humanos realizam o julgamento da realidade e constroem um juízo oriundo de um processo notadamente passional.
Um indivíduo com sentidos treinados percebe mais detalhes nas sensações que um não treinado, do mesmo modo que um pintor tem a capacidade de perceber coisas que um leigo não é capaz. O treinamento leva ao aperfeiçoamento da capacidade de interpretar sensações. Esse treinamento nada mais é do que prover o pensamento de memórias para que, na situação com nova sensação, ele (pensamento) consiga separar o que é novo como sentimento daquilo que é repetição, diminuindo o impacto do que é novo. Dessa forma, o PENSAMENTO será capaz de prover uma reação menos emotiva e acidental por uma mais equilibrada e controlada.
E o que acontece quando refletimos sobre algo?
A REFLEXÃO é o hábito de constatar sensações para gerar IDEIAS. Os sentidos estão sempre captando informações que geram sensações do nosso PENSAMENTO. Esse estado é comum dos seres vivos, pois todos estão submetidos a essa mesma condição criada pelos sentidos.
O uso da memória pela experiência reconhece a sensação e percebe a oportunidade de melhorar o CONHECIMENTO, daí a pessoa passa a prestar mais atenção àquela sensação. Dessa forma, o indivíduo passa a ter duas sensações, uma que já tinha experimentado e a outra que está experimentando. As duas juntas formam as sensações, uma atua nos sentidos e a outra na forma de memória. A sensação somente acontece quando o estímulo atual encontra uma sensação que já existia.
Qualquer nova informação, para se efetivar como conhecimento, deve partir de um conhecimento já construído, pois, a informação deve ser dosada na medida do conhecimento que o outro já possui daquele objeto ou as sensações se amontoarão e a compreensão ficará prejudicada.
O discernimento não é algo inato ao ser humano; ele só pode existir se for aprendido. O discernimento é um processo construído por intermédio de exercícios, em que a pessoa exercita seus sentidos, fazendo-os capazes de aprender a olhar, a ouvir e a sentir o mundo que está a seu alcance. Não basta ver, ouvir e sentir para compreender; as SENSAÇÕES devem encontrar experiências memorizadas para que sejam ajustadas e transformadas em novas memórias e em CONHECIMENTO.
A LINGUAGEM permite a análise do pensamento, pois palavras são necessárias para formar ideias. Os seres humanos pensam com a ajuda das palavras de modo que a inteligência, o pensamento, o raciocínio e a linguagem formam um conjunto inseparável. A linguagem é um método de análise da realidade. Uma pessoa só consegue entender o que produziu com o conteúdo de uma fala quando percebe essa fala nas palavras do outro. As pessoas decompõem as ações e percebem que compreendem os outros apenas quando analisam cada parte das ações deles.
O PENSAMENTO tem a necessidade de decompor ideias totais e parciais para formar novas ideias. Esse é o único método que os seres humanos desenvolveram para analisar o pensamento. Como não há limites para esse processo, podemos chegar aos mínimos detalhes. No entanto, ideias e situações pensadas não geram efeito na realidade, pois não criam o contexto relacional necessário para permitir a medição dos seus efeitos práticos.
A MEMÓRIA é a chave que possibilita a diferenciação do ser humano face a outros animais, pois podemos nos lembrar tão bem, a ponto de desenvolvermos um código intricado de símbolos que representa a LINGUAGEM. Mesmo sem qualquer genialidade, a nossa capacidade mnemônica é o que nos torna seres únicos.
Essa capacidade evolutiva, a memória, gerou a capacidade da fala, a criação de ferramentas e o controle do fogo, impulsionando nossa espécie num enorme salto evolutivo, pois as informações passaram a ser transmitidas entre as pessoas e gerações.
Do Continente Africano, munidos de “ferramentas” evolutivas, expandimos para o resto do planeta. Criamos símbolos que evidenciam nosso pensamento simbólico para representar conceitos como a imagem de uma vaca.
A agricultura fez o homem se sedentarizar e logo aprendemos a plantar cana de açúcar, centeio, cevada, trigo, bem como outros tipos de cereais. Todas as culturas de cereais são tipos de grama. Na evolução humana, a grama funcionou como um “catalisador” evolutivo, pois nossos ancestrais passaram a caminhar tendo em vista que a grama havia exterminado muitas árvores.
Ou seja, mais uma vez, a grama funcionou como um “catalizador” de nossa evolução, pois com a agricultura, nossa dieta ficou muito dependente de duas espécies de grama: trigo e cevada. Como ambas amadurecem na mesma época, fomos obrigados a planejar e guardar para evitar a fome. Dessa forma, aqueles que dominavam as plantações dominavam a sociedade.
Alguma espécies de animais são mais suscetíveis para domesticação como bovínos, suínos, ovínos e caprinos. A região da Europa e da Ásia apresentavam mais animais domesticáveis. Esse fato combinado a agricultura, abriu caminho para o domínio do mundo moderno nessas regiões. Diferentemente, a America e outros continentes não apresentavam tantos animais domesticáveis.
Quanto mais uma população dominava o comércio, maior era a taxa de seu crescimento. As primeiras civilizações surgem das viagens feitas por comerciantes em caravanas de burros e eram a única forma de comunicação da época. Ideias e histórias eram transportadas de um lugar a outro e o funcionamento do mundo passou a nos interessar. Essas ideias sempre tiveram relação direta com poder e dominação.
A domesticação dos cavalos combinadas com a roda, invenção dos sumérios, levou a criação da carroça e o intenso intercâmbio cultural da época foi responsável por fazer circular as cinco grandes religiões: cirstianismo, islamismo, judaísmo, budismo e hinduísmo. Em 312 d.C., o Imperador de Roma, Constantino, converteu-se ao cristianismo e abriu caminho para torná-la a religião dominante do Ocidente. O Islã também emerge para unificar uma região duas vezes e meia maior que o Império Romano.
O comércio árabe trouxe os segredos da invenção do papel, os algarismos arábicos e a pólvora, com o consequente aperfeiçoamento das armas. Com o descobrimento da América, o centro do poder moveu-se para a Europa. A invenção da máquina à vapor nos liberta dos limites musculares, tendo um papel preponderante na Revolução Industrial, posterior às Revoluções Liberais Burguesas na América e França.
E assim, o mundo do Atlântico tornou-se o líder econômico até a atualidade. Desenvolvemos o motor à combustão interna, a eletricidade, o telégrafo, o telefone, os computadores, os celulares e a internet. Hoje, somos mais de 7 bilhões de seres humanos e dominamos o planeta Terra. Aproveitamos a energia de forma muito mais eficientes que nossos ancestrais e estamos conectados numa rede mundial. A grosso modo, devemos tudo isso à nossa MENTE.
Mas como é possível compreender a mente, se supomos que a entidade que compreende deva ser mais complexa que o objeto a ser compreendido? Onde está o limite da compreensão? Existe esse limite?
Poderíamos supor que a matemática ou a física são reflexos simples de um universo físico? Em ambas situações, não podemos saber, pois tanto na MENTE quanto no UNIVERSO, não podemos medir toda sua complexidade. A mente humana ao tentar compreender os trabalhos da mente, nos obriga a uma situação na qual a entidade que quer compreender é de igual complexidade ao objeto a ser compreendido.
Será que somos impotentes para compreender a mente humana?
Talvez não sejamos impotentes para compreender a MENTE humana. É fato que estamos construindo máquinas cada vez mais complexas, e que tem se aproximado do comportamento humano, como por exemplo o sistema cognitivo da IBM, Watson, capaz de responder perguntas como um ser humano.
Será que estamos próximos da construção de cérebros positrônicos, mesmo sem a completa compreensão da mente humana? Nossa história indica que a resposta é positiva, pois criamos as primeiras máquinas à vapor antes de compreender completamente suas leis; construímos aparelhos elétricos, antes mesmo de conhecermos a corrente elétrica. Então, quais razões demonstraríam algo diferente quanto ao cérebro positrônico e a mente humana?
Será que um dia, a máquina nos ajudará a desvendar os mistérios da MENTE?
Existem inúmeros escritores de ficção científica excepcionais e dois deles desenvolveram ideias que se transformaram em realidade: Arthur C. Clarke e Isaac Asimov. Arthur C. Clarke escreveu o conto “Um macaco imitador pela casa”, que trata do que nos torna iguais ou diferentes aos animais. E Isaac Asimov escreveu o provocativo conto “A última pergunta”, que pode ser lido neste link: http://stoa.usp.br/lucianovf/files/2609/14554/A+%C3%BAltima+pergunta.pdf
A percepção do futuro é captada pela nossa imaginação ou é a imaginação que determina o futuro? No fim permanecemos com mais perguntas do que respostas, e isso deixa claro que a MENTE é um dos objetos de estudo mais complexos do Universo.
Para termos uma noção temporal mais precisa do Universo e nossa existência, imagine se transformássemos os 14 bilhões de anos do “Big Bang” em apenas 14 anos. Nesse cenário, a existência da Terra teria 5 anos, a dos dinossauros teria 3 semanas, a dos seres humanos teria 3 minutos e a da Revolução Industrial teria acontecido nos últimos 6 segundos.
Estamos aqui por um breve instante na história do Universo, mas até onde queremos chegar?